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Quando Ousmane Dembélé foi anunciado como vencedor da Bola de Ouro de 2025, foi impossível não pensar que o francês, aos 28 anos, furou a fila. Vencedor da Champions League com o PSG, o atacante foi um ganhador merecido — e que, por improvável, acabou levando o prêmio à frente de jogadores que por muitos anos parecem mais próximos dele. A lista tem, entre outros, Kylian Mbappé, Erling Haaland, Harry Kane. E Neymar. Os destinos de Dembélé e do brasileiro já se cruzaram duas vezes. Em ambas, o francês teve de mudar o rumo de sua carreira por causa do camisa 10, hoje no Santos. Em 2017, quando o PSG pagou a multa rescisória e Neymar trocou Barcelona por Paris, o clube catalão foi buscar Dembélé no Borussia Dortmund. O departamento de da equipe azul e grená foi atrás do francês por uma série de características que eram comuns a ambos: ponta, ambidestro, rápido e com bom desempenho no mano a mano. Pagou 105 milhões de euros (R$ 655 milhões em valores atuais). (Há, aqui, uma ironia do destino: Neymar foi para o clube parisiense para ser o melhor do mundo. A obsessão do brasileiro pela Bola de Ouro deu início a um efeito borboleta que virou a vida de Dembélé de ponta-cabeça. O que teria acontecido caso ele ficasse em Dortmund?) Naquela época, ninguém ousava comparar os dois. E, nos anos em que o francês esteve em Barcelona, qualquer paralelo entre o que Dembélé e Neymar fizeram na Catalunha era amplamente favorável ao brasileiro. Era justo dizer que Dembélé chegou para ser um "novo Neymar". Ele herdou a camisa 11, mas acabou nunca saindo da sombra do antigo dono. As passagens de ambos pelo Barcelona teve semelhante número de jogos: 186 para o brasileiro, 185 para o francês. Nas demais estatísticas, a comparação fere o novo dono da Bola de Ouro: Neymar marcou 105 gols e deu 59 assistências; Dembélé marcou 40 vezes e deu 41 passes para gols de companheiros. Em maio de 2019, quando Dembélé vivia sua melhor fase no Barcelona e Neymar tentava levar o PSG ao título da Champions, Josep Maria Bartomeu — então presidente do clube catalão — disse uma frase que, então, foi vista como provocação. Ao ser perguntado se sentia falta do brasileiro, afirmou: "Dembélé, hoje, é muito mais jogador que Neymar". Os destinos de ambos voltaram a se cruzar em 2023 e, mais uma vez, uma decisão relativa a Neymar teve impacto sobre Dembélé. Ao assumir o PSG, o espanhol Luis Enrique disse que não contava mais com o brasileiro. Neymar foi para o Al-Hilal, e seu substituto no clube de Paris foi novamente Dembélé. Só que, desta vez, o atacante ambidestro, habilidoso e tímido não ficou à sombra de seu predecessor. Depois de uma primeira temporada de adaptação, mudou o jeito de jogar e tornou-se um jogador de primeira linha. Desde ontem, Ousmane Dembélé também é um vencedor da Bola de Ouro, o prêmio que Neymar sempre teve como obsessão e nunca esteve muito perto de conseguir.